Data publicação: 26 de agosto de 2015
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LUTO E DEPRESSÃO

Por Vitor Andrade Reis*

Freud, em seu texto “Luto e Melancolia”, defende a distinção entre essas

duas terminologias, hoje tão interligadas e confundidas pela nossa atualidade.

Nesse, Freud postula, nas duas situações, os efeitos da perda de um objeto

amado, mas que tem contido em si diferenças peculiares. A primeira se

referindo ao esvaziamento do mundo externo e a segunda, ao do próprio eu

Tal colocação nos faz refletir sobre a depressão, assunto

inquietante e polêmico que ocupa lugar de destaque nos dias de hoje. O

notório aumento de diagnósticos referente à depressão e sua evidente

banalização, nos convoca à uma discussão clínica, ao considerar o termo

“depressão” como um verdadeiro jargão para demonstrar como o sujeito do

século XXI, influenciado pelas promessas da indústria farmacêutica, tem

enleado o processo do luto com os quadros depressivos. Discussão, essa,

nada recente, uma vez que Freud, em 1915, prontamente se preocupava com

tal distinção.

Depressão
Depressão
Luto
Luto

A correlação colocada por ele, entre luto e melancolia, hoje

nomeada como depressão, justifica-se pela similaridade no quadro geral

dessas duas manifestações. O luto caracteriza-se pela reação natural relativa à

perda de um objeto amado e, a melancolia como um quadro repleto de traços

penosos, englobando uma intensa tristeza e total desinteresse pelo mundo

externo. Contudo, é preciso termos cuidado ao trabalharmos com conceitos tão

finos, pois o trabalho que o luto realiza se afasta muito do processo patológico

estabelecido pela clínica da depressão. Enquanto o luto se define como a

“reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou

o lugar de um ente querido, como fim de um casamento, perda de um emprego

ou o ideal de alguém, e assim por diante. A melancolia (depressão) se

apresenta como uma tristeza árdua e penosa em que não é possível a identificação

dessa dor. No luto, a superação é gradual, o que possibilita, mais tarde, o

sujeito adotar um novo objeto de amor e assim substituir àquele que fora

perdido. Podemos observar a gravidade da clínica da depressão em relação ao

processo de luto. Na depressão, o sofrimento é de outra ordem, o sujeito não

consegue visualizar o que perdeu. O sofrimento existe, é algo coevo. Cabe,

portanto, entendermos que a perda de objetos que amamos, é algo que se

presentifica a todo o momento, seja pelo término de uma relação amorosa ou

devido à morte de um familiar.

*Vitor Andrade Reis
Especialista em Programação Neuro-Linguística
Especialista em tratamento em álcool e droga
Pós Graduado em Gestão de Pessoas e Coaching
Pós Graduando em Psicologia Organizacional
Consultório Particular: Avenida Cardoso Moreira/ Centro/Itaperuna
Gestor de saúde mental no município de Laje do Muriaé
Psicólogo e Palestrante no AME-SE

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