LUTO E DEPRESSÃO
Por Vitor Andrade Reis*
Freud, em seu texto “Luto e Melancolia”, defende a distinção entre essas
duas terminologias, hoje tão interligadas e confundidas pela nossa atualidade.
Nesse, Freud postula, nas duas situações, os efeitos da perda de um objeto
amado, mas que tem contido em si diferenças peculiares. A primeira se
referindo ao esvaziamento do mundo externo e a segunda, ao do próprio eu
Tal colocação nos faz refletir sobre a depressão, assunto
inquietante e polêmico que ocupa lugar de destaque nos dias de hoje. O
notório aumento de diagnósticos referente à depressão e sua evidente
banalização, nos convoca à uma discussão clínica, ao considerar o termo
“depressão” como um verdadeiro jargão para demonstrar como o sujeito do
século XXI, influenciado pelas promessas da indústria farmacêutica, tem
enleado o processo do luto com os quadros depressivos. Discussão, essa,
nada recente, uma vez que Freud, em 1915, prontamente se preocupava com
tal distinção.
A correlação colocada por ele, entre luto e melancolia, hoje
nomeada como depressão, justifica-se pela similaridade no quadro geral
dessas duas manifestações. O luto caracteriza-se pela reação natural relativa à
perda de um objeto amado e, a melancolia como um quadro repleto de traços
penosos, englobando uma intensa tristeza e total desinteresse pelo mundo
externo. Contudo, é preciso termos cuidado ao trabalharmos com conceitos tão
finos, pois o trabalho que o luto realiza se afasta muito do processo patológico
estabelecido pela clínica da depressão. Enquanto o luto se define como a
“reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou
o lugar de um ente querido, como fim de um casamento, perda de um emprego
ou o ideal de alguém, e assim por diante. A melancolia (depressão) se
apresenta como uma tristeza árdua e penosa em que não é possível a identificação
dessa dor. No luto, a superação é gradual, o que possibilita, mais tarde, o
sujeito adotar um novo objeto de amor e assim substituir àquele que fora
perdido. Podemos observar a gravidade da clínica da depressão em relação ao
processo de luto. Na depressão, o sofrimento é de outra ordem, o sujeito não
consegue visualizar o que perdeu. O sofrimento existe, é algo coevo. Cabe,
portanto, entendermos que a perda de objetos que amamos, é algo que se
presentifica a todo o momento, seja pelo término de uma relação amorosa ou
devido à morte de um familiar.