Há uma relação direta da renda familiar com o acesso ao ensino superior. Há mais de dez anos, aqueles que tinham acesso eram das classes média (tradicional), média alta e dali para frente. Você tinha pouca oferta de financiamento, poucas bolsas. Esse problema foi combatido nos últimos anos. O Fies e o Prouni foram importantes. Com o encolhimento desses dois programas e com a crise financeira, nossa perspectiva é que o país dê um passo atrás na inclusão no ensino superior.
Quais as consequências mais visíveis desse cenário?
Desde 2015, vemos uma diminuição no número de matriculados, o que claramente atinge quem não consegue pagar e, obviamente, não consegue financiamento. O empobrecimento da classe média tem como consequência direta a diminuição do total de matriculados. A recuperação será mais para o fim do ano que vem.
Os financiamentos próprios que algumas instituições têm oferecido atenuam o problema?
Sem dúvida. Dos alunos que perdem um pouco a renda, muitos vão conseguir pagar um pouco da faculdade. Estes vão valorizar a permanência nela. O que temos visto é que é possível resgatar em torno de 30% desses alunos. Mas, se a recuperação econômica do país demorar demais, mais de dois ou três anos, o aluno que topou um financiamento ou um parcelamento poderá ter dificuldades de permanecer com ele.