Por Jonathan HeadBBC News, Manila, Filipinas- G1
María é uma matadora de aluguel, mas quer deixar de fazer isso (Foto: BBC/Carlos Gabuco)
Quando você conhece alguém que já matou seis pessoas, não imagina que seja uma mulher pequena, bastante nervosa e com um bebê a tiracolo.
"Meu primeiro assassinato foi há dois anos. Estava muito assustada, porque era minha primeira vez", confessa María*, que hoje é uma assassina profissional envolvida na guerra que o governo das Filipinas trava contra as drogas.
A jovem faz parte de uma equipe formada por três mulheres, que são muito valorizadas por conseguirem se aproximar das vítimas sem levantar suspeitas - o que seria mais difícil se fossem homens.
Desde que Rodrigo Duterte foi eleito presidente, em junho deste ano, e disse aos cidadãos e à polícia para matarem narcotraficantes, Maria já matou mais cinco pessoas - todas com um tiro na cabeça - desde sua "estreia" na carreira.
Questionada sobre quem lhe deu a ordem para acabar com essas vidas, ela responde: "Nosso chefe na polícia".
'Sinto culpa e angústia. Não quero que as famílias dos que mato se vinguem de mim', diz María* (Foto: BBC/Carlos Gabuco)
A controversa guerra do Estado filipino contra as drogas é uma oportunidade de trabalho, mas também traz riscos.
Na mesma tarde do encontro com a reportagem, ela e seu marido disseram aos seus superiores que a casa onde moram havia sido exposta e que precisavam se mudar o quanto antes.
Ela conta ter começado a matar quando um policial encarregou seu marido de assassinar um narcotraficante endividado. E a atividade acabou se tornando algo rotineiro para ele. Até que a própria Maria foi acionada.
"Certa vez, precisaram de uma mulher, e meu marido me escolheu. Quando vi o homem que tinha de matar, me aproximei e atirei", conta.
María e o marido vêm de um bairro pobre de Manila. Não tinham renda fixa, o que mudou quando aceitaram virar matadores de aluguel.
Agora, ganham até US$ 430 por assassinato (R$ 1380), uma fortuna nas Filipinas, e dividem o valor entre três ou quatro profissionais do tipo. No entanto, María quer deixar essa vida. Só não sabe como fazer isso.
Vidas 'sem importância'
Esse tipo de atividade não é uma novidade nas Filipinas, mas nunca houve tanda demanda por esquadrões da morte quanto agora.
A mensagem passada pelo presidente Duterte é inequívoca. Antes de sua eleição, prometeu acabar com a vida de 100 mil criminosos nos primeiros seis meses no cargo. E fez uma advertência aos narcotraficantes: "Não destruam meu país, porque os matarei".