Data publicação: 18 de maio de 2015
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CRÔNICA DE DOMINGO

Nino Bellieny

Naquela cidade nem grande nem pequena, onde todos pensavam se conhecer, mas, nem a si mesmos, tudo era baseado em aparências e sentimentos. Antipatias, simpatias, afinidades e contrariedades. Viviam juntos, mas, não conviviam. Respiravam o mesmo ar e não compartilhavam ideias. Era preciso lutar pela própria vida e da família. Esta luta, que podia ser mais digna e menos oportunista, significava trocar de personalidade e projetos ao sabor do momento, do poder e do dinheiro.

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No período de eleições, por exemplo, as velhas antipatias e raivas contidas durante quatro anos eclodiam. Irmãos estranhando irmãos, filhos renegando pais, e amigos afastando amigos, cada um querendo o seu pedaço maior de pão. No prato em que este mesmo pão fora comido por muitos, a saliva era cuspida como detergente. Esqueciam-se os favores e as antigas mamadeiras fartas. Indignados clamavam em praça pública virtual ou real, as mazelas e defeitos daquele, agora no Poder, mas, que não os beneficiava. Esqueciam que, seus pais, irmãos, avós e tios e principalmente eles, já tinham sido parte de rodízios, que, para serem bons, só se fossem eternos.
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Bocas alimentadas durante anos por vínculos municipais familiares, agora babavam o veneno da ingratidão. Pregavam a anarquia ou alguém que ao tomar as rédeas, lembrasse-se deles, para que, por mais quatro anos, sugassem tetas cansadas e ainda assim, produzindo leite. Criticar, condenar, blasfemar, inventar detalhes escabrosos sobre a vida de todos, passatempos comuns , nesta época eletiva, tornavam-se realmente o Grande Esporte. Crimes contra a honra, boiando em qualquer conversa de esquina.
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Não importava as conquistas, os bons feitos, o que significasse crescimento. Dentre estes, os que amavam verdadeiramente a cidade, tentavam seguir o caminho correto e sofriam com a descrença e a ira dos considerados “espertos”, que, se não fosse para encherem o próprio bolso, jamais permaneciam satisfeitos. Mesmo que do Céu viesse alguém e tomasse conta dos destinos daquele tão bonito lugar. Ainda assim seria enxovalhado. E de novo crucificado.

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