Data publicação: 18 de setembro de 2017
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Alguns pratos ficam melhor no dia seguinte; reações químicas durante a refrigeração explicam o fenômeno (Foto: Pixabay/ CC0 Public Domain )

O mesmo de ontem, sobra ou requentado - como quiser chamar. Esses pratos que você cozinhou ontem e guardou na geladeira podem conter uma explosão de sabores que você não sentiu quando foram servidos pela primeira vez.

Em especial, guisados, molhos e sopas tendem a ter sabor muito melhor no dia seguinte.

Isso não tem nada a ver com a sua memória ou com o fato de que, como você não teve de cozinhar, agora pode relaxar e desfrutar melhor da comida.

O segredo está nos próprios alimentos, seus ingredientes e as reações químicas que neles acontecem durante o cozimento, refrigeração e reaquecimento.

É claro que nem toda comida guardada de um dia para outro vai ter um sabor melhor.

Sabemos que uma salada, depois de ser temperada, fica murcha e pouco convidativa algumas horas após seu preparo.

Pratos fritos perdem a textura crocante e o macarrão vira uma massaroca borrachenta e ressecada.

Peito de frango, sushi, peixe e mariscos também ficam pouco apetitosos dias após seu preparo.

Por outro lado, um molho à bolonhesa ou um frango ao curry requentados… hummm! Não tem nada igual.

Química e Física

As receitas que melhoram de gosto de um dia para o outro têm algumas características em comum.

Pratos que contêm carne e molhos, por exemplo, combinam múltiplos ingredientes com propriedades aromáticas individuais. Entre eles estão a cebola, o alho, o pimentão e as ervas.

Durante o processo de cozimento, esses elementos sofrem uma série de reações químicas dentro de um ambiente complexo.

Os ingredientes aromáticos são os que mais reagem nesse meio, produzindo compostos de sabores e aromas que, por sua vez, interagem com a proteína das carnes e o amido das batatas e legumes.

Quando o prato esfria, é refrigerado e depois requentado, algumas dessas reações voltam a ocorrer, resultando em um melhor sabor.

Além disso, em um prato recém preparado, ingredientes como o alho e a cebola podem se sobressair demais, disputando a atenção do paladar uns contra os outros.

No dia seguinte, no entanto, já se mesclaram e se suavizaram, o que dá ao prato um sabor mais equilibrado.

Gorduras, ossos e músculos

As gorduras e os colágenos têm muito a ver com a alteração nos sabores.

Quando uma carne cozida esfria, o colágeno - um tipo de proteína presente nos músculos, ossos e outras partes do animal - que havia derretido durante o cozimento começa a se coagular na superfície da carne, "prendendo" muitos sabores.

Esse fenômeno se acentua ainda mais na carne moída porque há mais superfícies às quais o colágeno gelatinoso pode aderir.

O mesmo ocorre com os amidos. Quando são cozidos, ficam gelatinosos. Ao esfriar, os compostos de sabores presentes no molho ficam presos em suas estruturas.

Pedaços de batata, mandioca e banana usados como ingredientes em guisados ficam particularmente saborosos no dia seguinte.

Esse processo também tem influência positiva sobre a textura da comida, que pode ficar mais espessa e cremosa.

O mesmo ocorre em pratos à base de carne. Quando esfriam e são requentados, tornam-se mais viscosos porque as fibras da proteína se decompõem, liberando o material gelatinoso que fica entre as células.

Cada vez que a proteína esfria e é reaquicida, mais quantidades dessa substância são liberadas, espessando o líquido que envolve a carne.

Porém, esse processo não deve ser repetido em demasiado. Quando é requentada muitas vezes, a carne tende a ficar fibrosa.

Fonte: G1