Data publicação: 16 de setembro de 2017
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Um professor de geografia do Instituto Federal Fluminense (IFF), em Campos dos Goytacazes, no Norte do estado, vai ser julgado por racismo por conta de uma publicação feita em uma rede social em março de 2016 em que compara mulheres negras à cerveja escura. A denúncia foi feita pelo Ministério Público Federal (MPF) à Justiça no início do mês de setembro. Ele recebeu uma advertência da instituição de ensino e continua lecionando para turmas do Ensino Médio.

A decisão da 2ª Vara Federal de Campos de acatar a denúncia do MP considerou que "há indícios suficientes de materialidade delitiva e da respectiva autoria, e que a conduta do réu se encaixa em discriminação pela raça". Não há data determinada para que o caso seja julgado.

O juiz acrescenta ainda que a oração “Pra ninguém achar que eu não gosto de afrodescendente. Nega gostosaaaaa!!!! Uh!!!! Foi mal”, como colocada pelo professor nas redes sociais, sugere que "ele não possuiria apreço por afrodescendentes, mas, quando se trata de cerveja, não teria preconceito, o que afastaria a afirmação inicial".

Para o MPF, a conduta é ainda mais reprovável pelo fato de ter sido veiculada na internet, atingindo um grande número de pessoas e também porque "foi realizada por um professor, chegando inclusive a jovens em período de formação, alunos e ex-alunos do denunciado".

O Instituto Federal Fluminense informou, por meio de nota, que abriu um Processo Administrativo Disciplinar e que o professor recebeu uma advertência.

"Ele ficou afastado durante a apuração e atualmente leciona no Ensino Médio. O processo judicial desenvolve-se na instância legal prevista na legislação", disse a nota.

Ministério Público aponta ironia, além de discriminação

No oferecimento da denúncia contra o educador, o MPF afirmou que o "conteúdo discriminatório não está apenas na comparação". Segundo a denúncia, a intenção discriminatória fica evidente na frase “Pra ninguém achar que eu não gosto de afrodescendente”, pois "trata-se de uma forma irônica de dizer que o professor não gostaria de afrodescendente, mas abriria uma exceção em relação à cor para a cerveja preta".

Ainda segundo a denúncia, a expressão “Uh!!!! Foi mal”, em que o professor “se desculpa”, deixaria nítida a sua intenção de ironizar "com o nítido cunho provocativo e a intenção de zombar de um determinado grupo (no caso, pessoas negras)".

Fonte: G1